|
Biografia de
Luís José Junqueira Freire
Luís José Junqueira Freire
Luís José Junqueira Freire, monge beneditino, sacerdote e poeta, nasceu na cidade de Salvador, no estado da Bahia, em 31 de dezembro de 1832, e faleceu na mesma cidade, em 24 de junho de 1855. É o patrono da Cadeira n. 25, por escolha do fundador Franklin Dória.
Era filho de José Vicente de Sá Freire e Felicidade Augusta Junqueira. Feitos os estudos primários e os de latim, de maneira irregular por motivo de saúde, matriculou-se em 1849 no Liceu Provincial, onde foi excelente aluno, grande ledor e já poeta. Por motivos familiares, ingressou na Ordem dos Beneditinos em 1851, aos 19 anos, sem vocação, professando no ano seguinte com o nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire.
Na clausura do Mosteiro de São Bento de Salvador viveu amargurado, revoltado e arrependido por certo da decisão irrevogável que tomara. Mas ali pôde fazer suas leituras prediletas e escrever poesias, além de exercer atividade como professor. Em 1853 pediu a secularização, que lhe permitiria libertar-se da disciplina monástica, embora permanecendo sacerdote, por força dos votos perpétuos. Obtida a secularização no ano seguinte, recolheu-se à casa, onde redigiu a breve Autobiografia, em que manifesta um senso agudo de auto-análise. Ao mesmo tempo, cuidou da impressão de uma coletânea de versos, a que deu o nome de Inspirações do claustro, impressa na Bahia pouco antes de sua morte, aos 23 anos, motivada por moléstia cardíaca de que sofria desde a infância.
A sua obra poética enquadra-se na terceira fase do Romantismo, dita de ultra-romantismo. Na sua geração foi o mais ligado aos padrões do Neoclassicismo português, ele próprio sendo autor de um compêndio conservador, Elementos de retórica nacional, que explica a sua concepção de poesia como cadência medida e até certo ponto prosaica. A sua mensagem, como a dos românticos em geral, era complexa demais para caber na regularidade do sistema clássico. O drama que tencionava mostrar era o erro de vocação que o levou ao claustro, seguido da crise moral e do conflito interior que o levaram a abandoná-lo. Daí provieram os temas mais freqüentes da sua poesia, misturados a preces e blasfêmias: o horror ao celibato; o desejo reprimido que o perturbava e aguçava o sentimento de pecado; a revolta contra a regra, contra o mundo e contra si próprio; o remorso e, como conseqüência natural, a obsessão de morte. O poeta clama na sua cela e traz desordenadamente este tumulto ao leitor. Sua poesia, ora do cunho religioso, ora social, tem lugar relevante no Romantismo brasileiro. Possuía também um sentimento brasileiro, além de uma tendência antimonárquica, liberal e social.
Obras: Inspirações do claustro (1855); Elementos de retórica nacional (1869); Obras, edição crítica por Roberto Alvim, 3 vols. (1944); Junqueira Freire, org. por Antonio Carlos Vilaça (Coleção Nossos Clássicos, n. 66); Desespero na solidão, org. por Antonio Carlos Vilaça (1976); Obra poética de Junqueira Freire (1970).
Gentileza Academia Brasileira de Letras www.academia.org.br
Fonte: http://www.biblio.com.br/Templates/JunqueiraFreire/JunqueiraFreire.htm
Junqueira Freire.
Considerado um dos poetas mais importantes do tempo, Junqueira Freire (1832-1855) é hoje quase ilegível. Consta mesmo que Antero de Quental estimava muito sua poesia, o que é perfeitamente compreensível, pois há grande afinidade temática entre ambos. Como em Antero, nele encontramos a cada passo a angústia religiosa e a exposição das suas Contradições poéticas, que é o título de um de seus livros. De notável mesmo, e curioso, apenas o fato de que é autor do provavelmente único poema romântico brasileiro dedicado ao desejo declaradamente homossexual, "Eu que te amo tão deveras...".
Sousândrade.
Do ponto de vista da historigrafia literária brasileira, Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade (1832-1902), está no pólo oposto ao de Junqueira Freire, pois sua obra -- que tem recentemente despertado muito interesse -- ficou completamente ao largo da época. Pouco editado e quase desconhecido no Brasil, só por volta de 1960 tornou-se objeto de estudos e valorização por uma parcela da crítica especializada.
A obra capital de Sousândrade é O Guesa, um poema inspirado no Childe Harold, escrito ao longo de cerca de vinte anos e composto de treze cantos, dos quais três ficaram inacabados. O nome "Guesa" (errante, sem casa) é a palavra que designa o eleito para o sacrifício ritual entre índios muíscas da Colômbia. Trata-se de uma criança retirada do convívio dos pais e educada para, na adolescência, ser morta a flechadas após ter repetido por vários anos o trajeto de um deus solar. Do ponto de vista da concepção geral, é uma obra grandiosa: o poeta se identifica com o Guesa e narra suas aventuras e desventuras, alegorizando o destino dos povos americanos após a chegada dos colonizadores europeus. Na realidade, o Guesa mítico rapidamente cai para segundo plano, em benefício do Guesa/Sousândrade, isto é, o discurso autobiográfico abandona o plano alegórico e o texto passa a organizar-se segundo o fluxo das lembranças e preocupações do narrador, voltando eventual e topicamente à referência mítica. Durante a maior parte do tempo, é a voz de Sousândrade que desenvolve a crítica aos vícios da sociedade contemporânea, faz a crônica dos acontecimentos políticos, evoca incidentes de sua vida particular, discute teologia, propõe modelos de comportamento social para as mulheres, etc.
A exemplo do que ocorre com O Guesa, a leitura por extenso da obra de Sousândrade é decepcionante, pois ela não mantém de forma alguma o nível de realização estética presente em boa parte das passagens modernamente antologizadas. No caso específico desse poema, defrontamo-nos com um texto muito desigual, em que se justapõem estrofes e episódios de grande originalidade e dezenas de páginas da mais desorada e caótica eloqüência romântica. Quando, porém, nos dedicamos à busca de fragmentos, estrofes ou versos de alto quilate entre a ganga que constitui a maior parte do que escreveu, encontramos alguns versos realmente esplêndidos. Sirva de exemplo, entre várias outras estrofes do Guesa, a seguinte quadra bilíngüe:
O que sucede quase sempre é que versos como esses não dão o tom dos trechos em que se inserem. Pelo contrário, contrastam agudamente com a maior parte do canto ou do poema. É o que se pode ver, neste caso, pela leitura de algumas das estrofes que se seguem e glosam a mesma idéia:
A originalidade de Sousândrade se revela com maior intensidade quando consideramos suas invenções sintáticas e vocabulares. Além da incorporação de palavras de vários idiomas numa mesma estrofe, são freqüentes os neologismos, inclusive bilíngües como, por exemplo, "ring-negros" e "safe-guardando", . Chama também a atenção que utilize várias vezes uma ordenação sintática inusual ou decalcada de outra língua, como é o caso de "sem-sono noite" ou "olho-azul Marabás". Nesse nível de observação há, sem dúvida, muito o que comentar, e a modernidade de Sousândrade tem sido devidamente posta em destaque nos últimos trinta anos. Dentro da seqüência dos textos, porém, esses achados perdem muito do brilho que têm quando isoladamente considerados e, como observou certa vez Manuel Bandeira, essas "invenções [...], freqüentemente de duvidoso gosto aliás, pouco ajudam a suportar o fluxo do mais enfadonho estilo discursivo romântico."
Junqueira
Freire
(1832-1855)
Luís José Junqueira Freire, nascido em Salvador, ingressou, aos 19 anos, na
Ordem dos Beneditinos. Pernaneceu enclausurado até 1854, quando, atormentado
pela falta de vocação, abandonou a vida monástica. Seus poemas, reunidos em
Inspirações do Claustro (1855), estão carregados de culpa, revelando uma
sexualidade latente e reprimida. Retratam o jovem angustiado e depressivo que se
sente incapaz de seguir a vida religiosa e que encontra na morte o seu único
escape.
POESIAS
Inspirações do claustro (trechos)
Aqui – já era noite... eu reclinei-me |
MARTÍRIO Beijar-te a fronte linda: Beijar o ar, que aspiras: Sentir teus modos frios: Sentir que me resguardas: Eis a descrença e crença, Eis o estertor de morte, Junqueira Freire
|
LOUCO Não, não é louco. O espírito somente Achou pequeno o cérebro que o tinha: Foi uma repulsão de dois contrários: Agora está mais livre. Algum atilho Agora é mais espírito que corpo: Agora, sim — o espírito mais livre E vós, almas terrenas, que a matéria Não, não é louco. O espírito somente (Inspirações do claustro, 1855) |
Martírio
Beijar-te a fronte linda
Beijar-te o aspecto altivo
Beijar-te a tez morena
Beijar-te o rir lascivo
Beijar o ar que aspiras
Beijar o pó que pisas
Beijar a voz que soltas
Beijar a luz que visas
Sentir teus modos frios,
Sentir tua apatia,
Sentir até répúdio,
Sentir essa ironia,
Sentir que me resguardas,
Sentir que me arreceias,
Sentir que me repugnas,
Sentir que até me odeias,
Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!
Eis o estertor de morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger dos dentes,
Eis o penar do inferno!Junqueira Freire
Morte
Pensamento
gentil de paz eterna,
Amiga
morte, vem. Tu és o termo
De
dous fantasmas que a exigência formam,
- Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
Pensamento
gentil de paz eterna,
Amiga
morte, vem. Tu és o nada,
Tu
és a ausência das moções da vida,
Do
prazer que nos custa a dor passada.
Pensamento
gentil de paz eterna,
Amiga
morte, vem. Tu és apenas
A
visão mais real das que nos cercam,
Que
nos extingues as visões terrenas.
Nunca
temi tua destra,
Não
sou o vulgo profano;
Nunca
pensei que teu braço
Brande
um punhal sobr'- humano.
Nunca
julguei-te em meus sonhos
Um
esqueleto mirrado;
Nunca
dei-te, pra voares,
Terrível
ginete alado.
Nunca
te dei uma fouce
Dura,
fina e recurvada;
Nunca
chamei-te inimiga,
Ímpia,
cruel, ou culpada.
Amei-te
sempre: — e pertencer-te quero
Para
sempre também, amiga morte.
Quero
o chão, quero a terra, — esse elemento
Que
não se sente dos vaivéns da sorte.
Para
tua hecatombe de um segundo
Não
falta alguém? — Preencha-a comigo:
Leva-me
à região da paz horrenda,
Leva-me
ao nada, leva-me contigo.
Miríadas
de vermes lá me esperam
Para
nascer de meu fermento ainda,
Para
nutrir-se e meu suco impuro,
Talvez
me espera uma plantinha linda.
Vermes
que sobre podridões refervem,
Plantinha
que a raiz meus ossos ferra,
Em
vós minha alma e sentimento e corpo
Irão
em partes agregar-se à terra.
E
depois nada mais. Já não há tempo,
Nem
vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora
o nada, — esse real tão belo
Só
nas terrenas vísceras deposto.
Facho
que a morte ao luminar apaga,
Foi
essa alma fatal que nos aterra.
Consciência,
razão, que nos afligem,
Deram
em nada ao baquear em terra.
Única
idéia mais real dos homens,
Morte
feliz — eu quero-te comigo,
Leva-me
ao nada, leva-me contigo.
Também
desta vida à campa
Não
transporto uma saudade.
Cerro
meus olhos contente
Sem
um ai de ansiedade.
E
como autômato infante
Que
inda não sabe mentir,
Ao
pé da morte querida
Hei
de insensato sorrir.
Por
minha face sinistra
Meu
pranto não correrá.
Em
meus olhos moribundos
Terrores
ninguém lerá
Não
achei na terra amores
Que
merecessem os meus.
Não
tenho um ente no mundo
A
quem diga o meu — adeus.
Não
posso da vida à campa
Transportar
uma saudade.
Cerro
meus olhos contente
Sem
um ai de ansiedade.
Por
isso, ó morte, eu amo-te e não temo:
Por
isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me
à região da paz horrenda,
Leva-me
ao nada, leva-me contigo.
Junqueira Freire
SAUDADE
Ao meu amigo
Frei Bento da Trindade Cortez
Atualmente no Mosteiro do Rio de Janeiro
... porque lágrimas também são amor.
Dr. J. J. B. de Oliveira
Em minhas horas de noturna insônia,
Com os olhos fitos no porvir longínquo
Eu penso em mim, - e na segunda idéia
Encontro-me contigo.
Eu te pranteio no arrebol da aurora,
Que em teu exílio meditando esperas.
Envolto num crepúsculo te enxergo
A deplorar teus fados.
Nas nuvens de sangüíneas listras
Lágrimas verto que sobre elas mando,
Partem, - porém do caminhar cansadas
Descaem no oceano.
Desesperado então, maldigo o espaço,
Maldigo o céu e a terra, o vácuo e o pleno.
Em cada criação deparo um erro.
Nem acho Deus tão sábio.
E na minha alma se desenha ao vivo
Melhor, mais belo, mais ditoso, um mundo.
Tiro do nada, sem ausência e males,
Um orbe todo novo.
O amor da pátria que os tiranos banem,
Não choraria maldições e sangue.
Nem tu nem eu seríamos cortados
Por divisões de abismos.
Mas quando ainda não acabo o sonho,
Diviso armadas que vão mar em fora.
Desperto, e caio nos aéreos braços
Da quimera sublime.
E mais amargo te lamento a sorte,
Tu, mártir feito pelas mãos dos bonzos,
Invoco o céu que entornará sobre eles
Alabastros de anátema.
Ligando a mim teu coração dorido,
Que a teus amigos em penhor deixaste,
Tateio nele as emoções tão vivas,
Que em teu desterro sofres.
Conheço as aflições que te salteiam,
Nobre proscrito. O sol, a lua, os astros.
Cruzam teu ponto, e trazem-me sinceros
Tuas ingênuas dores.
Sim! para os claustros não nasceu tua alma.
Teu coração não te palpita - Monge.
Nem tão baixo teus ímpetos serpenteiam,
Que um cárcere os contente.
Nesse vasto palor que te orna a fronte,
- Sinal dos homens de profundo gênio,
Eu leio a grande e destemida idéia,
Que não cabe nos claustros.
Deserta, ó gênio, do covil imundo,
Onde o leão dos vícios se alaparda.
Ah! esta cela, onde a indolência dorme.
Não pode, não, ser tua.
Coral guardado nas flumíneas urnas,
Quem há de te arrancar do equóreo fundo?
Não serias mais belo, em áureo engaste,
No colo de uma virgem?
Junqueira Freire
Bahia, 5 de Agosto de 1854
Ao gozo, ao gozo, amiga. O chão que
pisas
A cada instante te oferece a cova.
Pisemos devagar. Olhe que a terra
Não sinta o nosso peso.
Deitemo-nos aqui. Abre-me os braços.
Escondamo-nos um no seio do outro.
Não há de assim nos avistar a morte,
Ou morreremos juntos.
Não fales muito. Uma palavra basta
Murmurada, em segredo, ao pé do ouvido.
Nada, nada de voz, - nem um suspiro,
Nem um arfar mais forte.
Fala-me só com o revolver dos olhos.
Tenho-me afeito à inteligência deles.
Deixa-me os lábios teus, rubros de encanto.
Somente pra os meus beijos.
Ao gozo, ao gozo, amiga. O chão
que pisas
A cada instante te oferece a cova.
Pisemos devagar. Olha que a terra
Não sinta o nosso peso. Junqueira Freire
Fonte: http://www.academia.org.br/imortais.htm
Bibliografia de base
Gonçalves de Magalhães, Domingos José (1811-1882). Suspiros Poéticos e Saudades. Rio de Janeiro, Ministério da Educação, 1939.(1ª ed., Paris, 1836.)
Gonçalves de Magalhães, Domingos José. Ensaio sobre a História da Literatura do Brasil.In: Niterói, Revista Brasiliense, Tomo Primeiro, nº 1, pp. 132-159. São Paulo, Academia Paulista de Letras, 1978. (1ª ed., Paris, 1836.)
Porto-Alegre, Manuel de Araújo (1806-1879). Esparsos. In: Silva Ramos, F. J. da. Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo, Edições LEP, 1952, pp. 5-20. (1ª ed. de Brasilianas: Viena, 1863.)
Gonçalves Dias, Antônio (1823-1864). Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1959. (Primeiras edições: Primeiros Cantos, 1846; Segundos Cantos, 1848; ùltimos Cantos, 1851.)
Álvares de Azevedo, Manuel Antônio (1831-1852). Obras Completas (2 vol.). São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1942. (1ª ed. das Poesias, 1853.)
Guimarães, Bernardo Joaquim da Silva (1825-1884). Poesias completas. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro/Ministério da Educação e Cultura, 1959. (Primeiras edições: Cantos da solidão, 1852; Poesias, 1865; Novas poesias, 1876; Folhas de Outono, 1883.
Andrada e Silva, José Bonifácio (1827-1886). Poesias. São Paulo, Comissão Estadual de Cultura, 1962.
Abreu, Casimiro José Marques de (1839-1860). Obras. Rio de Janeiro, Ministério da Educação, 1955. (1ª edição das Primaveras, 1859.)
Fagundes Varela, Luís Nicolau (1841-1875). Poesias Completas. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1957 (3 vol.). Poesias completas. In: Silva Ramos, F. J. da. Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo, Edições LEP, 1952, pp. 501-698. (Primeiras edições: Noturnas, 1861; O estandarte auriverde, 1863; Vozes da América, 1864; Cantos e Fantasias, 1865; Cantos Meridionais, 1869; Cantos do ermo e da cidade, 1869; Anchieta ou o Evangelho nas selvas, 1875; Cantos religiosos, 1878; Diário de Lázaro, 1880.)
Castro Alves, Antônio Frederico de (1847-1871). Poesias completas. In: Silva Ramos, F. J. da. Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo, Edições LEP, 1952, pp. 702-815. (1ª ed.: Espumas flutuantes, 1870; A cachoeira de Paulo Afonso, 1876; Os escravos, 1883.)
Junqueira Freire, Luís José (1832-1855). Poesias completas. In: Silva Ramos, F. J. da. Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo, Edições LEP, 1952, pp. 409-498. (1ª edição de Inspirações do Claustro, 1855; de Contradições poéticas, ed. póstuma.)
Souza Andrade, Joaquim de (1832-1902). O Guesa. São Luís, Edições SIOGE, 1979. Inéditos. São Luís, Departamento de Cultura do Estado, 1970. Primeiras edições: Harpas selvagens, 1857; Impressos (2 vol), 1868 e 1869; Obras poéticas, New York, 1874; O Guesa, Londres, 1888.)
Bibliografia de referência:
Andrade, Mário de. Amor e Medo. In: Aspectos da literatura brasileira. São Paulo, Livraria Martins Editora S.A.; Brasília, Instituto Nacional do Livro/MEC, 1972, pp.197-229.
Andrade, Mário de. Castro Alves. Ibidem. pp. 109-123.
Bandeira, Manuel. Apresentação da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro, Edições de Ouro, s/d.
Bosi, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Editora Cultrix, 1975, 571 pp.
Campos, A. de e Campos, H. de. ReVisão de Sousândrade. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1982 (2ª ed.)
Candido, Antonio. Formação da literatura brasileira. (2 vol.). São Paulo, Livraria Martins Editora S.A., 4ª ed., s/d, 365 e 440 pp.
Carvalho, Ronald. Pequena História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, F. Briguiet & C., Editores, 1937, 384 pp.
Castelo, J. A. Os pródromos do Romantismo. In: Coutinho, A. (org.). A literatura no Brasil, vol.III. Rio de Janeiro/Niterói, José Olympio Editora/Universidade Federal Fluminense, 1986, pp. 37-69.
César, Guilhermino (org.). Historiadores e críticos do romantismo -- 1: a contribuição européia, crítica e história literária. Rio de Janeiro/São Paulo, LTC-Livros Técnicos e Científicos/Editora da Universidade de São Paulo, 1978.
Holanda, Sérgio Buarque de. Prefácio. In: Magalhães, D.J.G. de. Obras Completas, vol. II. Rio de Janeiro, Ministério da Educação, 1939, pp.IX-XXXI.
Veríssimo, José. Estudos de literatura brasileira -- Segunda série. Rio de Janeiro, Garnier, 1901.
Veríssimo, José. História da Literatura Brasileira. Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1981, 289 pp.
Mancha de família (CORREIO DA BAHIA-BA) - 22/5/2005
Outros Jornais
Mancha de família
Junqueira Freire amargou o peso da bastardia legado pela avó, recolhida a um convento por ter sido mãe solteira O silêncio do convento foi quebrado pelo choro da recém-nascida. A menina pequena, enrugada e vermelha, expulsa do calorzinho do útero, reclamava o colo da mãe. Ainda esgotada pelo esforço do parto, Francisca Rosa deixou escapar uma lágrima. Quem a visse chorar imaginaria que era a emoção pela chegada do bebê. Mas quem conhecia as circunstâncias daquele nascimento sabia que ela chorava a dor da separação. Do lado de fora da clausura, a mãe de Francisca Rosa aguardava impaciente que as irmãs lhe trouxessem a neta. Tinha pressa. E se alguém a visse sair de dentro do convento com a menina? Que pensariam dela e de sua família? Poderia dizer que era uma órfã deixada na porta das freiras e que as irmãs lhe ofereceram a enjeitada para criar. Até então, todos os cuidados tinham sido tomados. Enclausurar Francisca Rosa, por mais que doesse na sua alma de mãe, fora a melhor solução para reparar o mau passo da filha. Sem se deixar dominar pela enxurrada de pensamentos que ameaçavam invadir-lhe a mente, a avó suspirou, recebeu a neta nos braços e deixou para trás mais uma freira sem vocação, convertida à custa de uma gravidez indesejada naquela Salvador de início do século XIX. A história do poeta baiano Junqueira Freire começa pela vida de Francisca Rosa, sua avó, e do romance proibido que custou a ela e aos seus descendentes o nome, a herança e a liberdade. Nobre de nascimento, filha de uma tradicional família da Bahia oitocentista, Francisca Rosa possuía todos os dotes e predicados para desposar um cavalheiro da mais fina estirpe. O destino quis que se apaixonasse por um desconhecido, um plebeu sem nome. O amor clandestino foi descoberto pelos familiares e a moça terminou internada no convento, provavelmente o da Lapa, para onde ia a maioria das meninas "que se perdiam" naquele tempo. A ex-filha de família viveria enclausurada até o fim dos seus dias. Estava morta para os parentes, que a partir dali tratariam de esquecê-la o mais depressa possível. Mas, por baixo do hábito de enclausurada, começou a projetar-se uma barriga. - Grávida! -, teria exclamado a mãe de Francisca Rosa ao receber o comunicado das freiras de que a filha estava prestes a dar à luz. Diante dessa nova situação, pensou, não restava outro remédio, o recém-nascido teria de ser retirado do convento. "Oxalá nasça um menino, porque a bastardia sempre pega menos nos homens. Não dizem que o primeiro governador geral do Brasil era bastardo? E no entanto gozava da privacidade dos reis. Com um menino sempre pode-se dar um jeito, mas se for menina..." Nasceu uma menina. Felicidade Augusta de Oliveira Junqueira. Não poderiam escolher nome mais paradoxal para um bebê gerado de um amor proibido, sem pai e com a mãe trancada em um convento. Criada pela avó, Felicidade cresceu à margem da sociedade. Na sua certidão de batismo, a frase "filha de pais incógnitos" denunciava a bastardia com a mesma força com que a letra escarlate marcava as adúlteras na Idade Média. De dentro do convento, Francisca Rosa tentava beneficiar a filha. Quis fazer um testamento e legar à menina o pouco que lhe restara depois de ter sido deserdada. Os parentes não permitiram, mas se comprometeram a amparar a pequena. Mesmo sendo filha ilegítima, Felicidade Augusta teria direito a alguns bens e escravos, mas, para receber o legado, precisaria antes se casar. O problema era arranjar um marido. Nenhum rapaz da nobreza baiana se interessava em desposar uma moça manchada pelo erro da mãe e com um dote tão insignificante. Por mais casta que Felicidade Augusta fosse, a culpa da sua concepção se estenderia por gerações e mancharia até os filhos que viesse a ter no futuro. O melhor candidato que arranjaram foi José Vicente de Sá Freire, funcionário da Fazenda Pública. Casaram, tiveram dois filhos. O mais velho, um menino, chamaram Luis José Junqueira Freire. Logo depois nasceu também uma menina. Cabeça do casal, José Vicente recebeu a declaração que legava à esposa a magra herança de Francisca Rosa. A família vivia modestamente. A mancha pelo erro da mãe de Felicidade era um empecilho a maiores ambições e ela sofreu humilhações do marido por causa de seu nome maculado. Para se ter uma idéia do que significava um filho ilegítimo no século XIX, na hora de batizar o primogênito de Felicidade Augusta, os padrinhos escolhidos tiveram vergonha de comparecer à cerimônia e mandaram representantes até a igreja. Mal acabara de nascer, Junqueira Freire era estigmatizado na cidade como o filho de uma bastarda. Com uma origem tão peculiar, era de se imaginar o que ele seria quando crescesse: talvez funcionário público como o pai. Mas Junqueira Freire foi poeta e usou seus versos para cantar a desdita de todos os proscritos da sociedade. Pertencendo à segunda geração do romantismo, conhecida como Mal do Século (por causa da tuberculose que vitimava os poetas precocemente e devido à aura de satanismo que acompanhava os bardos do período), Junqueira Freire tinha grande simpatia por temas como a bastardia, a orfandade, o suicídio, a sexualidade feminina e o homossexualismo. Na mentalidade do período, seus versos polêmicos nada teriam demais se ele fosse apenas mais um poeta boêmio e freqüentador de cemitérios. O problema é que dentro da sua alma conviviam contradições difíceis de aceitar pela sociedade do seu tempo. Apesar de rebelde como a avó, que namorou um plebeu às escondidas, o jovem entrou para a Ordem de São Bento, cujos 73 capítulos da Regra pregavam a atitude servil e a obediência plena a Deus, à igreja e ao abade. Diante de tantas leis rígidas, não se adaptou ao mosteiro. Assim como não se adaptava à vida hipócrita da sociedade do seu tempo. Viveu intensamente, durante apenas 22 anos, todos os conflitos e angústias de sua geração. Por causa das contradições típicas da adolescência e da genialidade de poeta, era tido como louco e até hoje, apesar de existirem blogs na internet que publicam seus poemas, o nome de Junqueira Freire está reduzido ao de um monge devasso, que fazia versos carregados de testosterona na solidão da cela. Ele foi bem mais que isso: para os estudiosos que começam a reabilitá-lo perante a literatura nacional, Junqueira Freire, anônimo na própria cidade onde nasceu, é tão importante para a Bahia quanto um outro jovem romântico morto precocemente, Castro Alves. O legado do poeta, apesar de boa parte ter se perdido por descuido e sabotagem literária, para a professora Dalila Machado, autora da tese Os tempos fáusticos na lírica do lugar, o coloca no mesmo patamar dos franceses Baudelaire e Rimbaud. Fagundes Varela, ícone da segunda geração romântica brasileira, bebeu na fonte de Junqueira Freire. Entre seus leitores, ninguém menos que Machado de Assis e Fernando Pessoa. O autor de D. Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas chegou a dizer que o jovem bardo, que completa 150 anos de morto em 24 de junho próximo, era amado pelos deuses, "visto que o levaram tão cedo". *** `Meu senhor tem mil mulheres, Tão doces como o maná; Amante de cousas novas, As novas chamando irá: Meu senhor - de mim, coitada De mim não se lembrará´ (Trecho do poema Sultana - Junqueira Freire)
Fonte: http://www.unicamp.br/~franchet/prbiblio.htm e http://sistemas.aids.gov.br/imprensa/Noticias.asp?NOTCod=64562