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História das cidades pelos trilhos da estrada de ferro

Pesquisadores visitam mais de 40 cidades para levantar a importância social do trem

Humberto de Castro/AAN

Adílson Martins (E) e Aparecido Marcondes: busca pela identidade visual das cidades

UBIRATAN BRASIL

A estrada de ferro desperta duas emoções especiais em Antônio Almeida Araújo , de 83 anos: a primeira de quando seu filho embarcou para estudar, ainda menino de cara lavada; a outra, anos depois, quando ele voltou doutor, cabelo engomado, bigode e acenando com o diploma pela janela do trem. "É essa relação tão forte da população com a estrada de ferro que nos motivou a lançar um grande projeto", conta o historiador Aparecido Marcondes que, ao lado do colega Adílson Martins, decidiu registrar as marcas profundas deixadas na história de diversas cidades.

Em 1992, recém-formados pela PUC de Campinas, Marcondes e Martins saíram em um velho Corcel e, durante sete dias, percorreram mais de 5 mil quilômetros, passando por 40 cidades e registrando o que sobrou da grande fase do transporte de trem, especialmente no progresso do interior paulista e a cultura de café. "Começamos na estação central de Mogi-Mirim e, de carro ou a pé, chegamos até Minas Gerais, onde terminou o roteiro", lembra Marcondes.

Ao longo do percurso, fotografaram ruínas das estações e dos trilhos, além de coletarem fatos emocionados - cada pessoa ouvida apresentava um documento precioso sobre a história da ferrovia, que coincidia com a própria evolução das cidades. "Todos queriam saber, ansiosos, se a estrada voltaria a funcionar, o que revela sua importância."

Ao longo da viagem, os historiadores descobriram verdadeiras pérolas arquitetônicas praticamente esquecidas. Como uma ponte de ferro abandonada, próxima à estação de Tapir, em Minas Gerais. "Trata-se de um belo trabalho de engenharia projetado por André Rebouças", comenta Marcondes.

As marcas do progresso ainda são visíveis nas estações que foram parcialmente conservadas (transformadas, muitas vezes, em centros culturais) e nos centros comerciais que surgiram por conta do transporte férreo. Como um mercado do século 19 em Mogi-Guaçu que ainda estava em funcionamento. Segundo ouviram dos moradores, quando o trem passava por lá a situação financeira da cidade era muito boa.

Todos os relatos foram cuidadosamente anotados em um bloco - em determinados momentos, alguns moradores, decididos a deixar um registro fiel, anotavam de próprio punho suas lembranças, como aconteceu em Guaxupé (MG). "Longe de carregarem tristezas, essas lembranças sempre traziam vida", comenta Marcondes.

O material resultou na exposição Imagens do Interior: Caminhos de Nossa Juventude, com 40 imagens e 9 textos que revelam a íntima relação da Mogiana com as pessoas que, em algum momento da vida, tiveram lembranças marcadas pelo apito do trem. "As histórias estão intactas na memória das pessoas, daí o motivo de conciliar imagem com depoimentos", explica Marcondes. A exposição estreou em setembro, em Campinas, iniciando uma carreira que pretende compreender 15 cidades.

Nesta semana, Marcondes conversou com os responsáveis pelo Museu da Pessoa e fechou uma parceria na logística da realização do projeto. E os historiadores pretendem ampliar os planos, realizando agora um documentário além de editar em livro todas as informações e imagens recolhidas. Com isso, pretendem não apenas resgatar um importante fato da história como também apontar a necessidade de uma identidade visual urbana para as cidades do interior. Os interessados em participar devem contatar Aparecido Marcondes pelo telefone : (0--11) 9869-3928.

http://www.estado.com.br/editorias/2003/02/21/cad025.html


Fonte: Matéria enviada por:  José Eduardo de Oliveira Bruno  - SP, junho de 2004.
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