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História de Visconde de Mauá

 

Mais conhecido como Mauá, este lindo recanto da serra da Mantiqueira , localizado na região do Maciço do Itatiaia,descortinando-se para as majestosas e sublimes Agulhas Negras, teve como cenário, no final do século XIX e início do século XX, núcleos de colonização de imigrantes europeus, como precursores de seu povoamento.

"A idéia do aproveitamento destas terras para formação de núcleos coloniais surgiu,pela primeira vez, à época da especulação financeira no início da República. Num breve período, que vai de 1889 a 1892, ao estimular novas atividades, ocorreu uma intensa especulação, revelada nos famosos 'booms' da Bolsa de Valores do Rio. Facilidade de crédito, abundância de títulos e mesmo companhias fantasmas marcam a euforia destes anos.

Foi neste clima que o Com. Henrique Irineu de Souza, filho e herdeiro do Visconde de Mauá, obteve por contrato, permissão para instalar dois núcleos coloniais em suas terras: os núcleos "Visconde de Mauá"(no vale do Rio Preto) e "Itatiaia"(no vale do Rio Campo Belo). O contrato entra em vigor em 1889, estipulando que o governo seria o responsável pela introdução e transporte dos colonos, comprometendo-se em construir estradas e indenizar o proprietário pelos gastos feitos na instalação dos núcleos e sustento provisório dos imigrantes.As previsões eram bastante pretensiosas e falavam em receber cerca de quinhentas a mil famílias de colonos."(1)

No entanto, hoje em dia, poucos sabem quem foi Henrique Irineu de Souza, filho do Barão e depois, Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Souza.

Henrique, foi o pioneiro em realizar um empreendimento de colônias agrícolas, naquela região serrana. Sua vasta propriedade compreendia em extensão, da Pedra Selada até os contrafortes da serra do Maromba. Possuía três grandes fazendas - 1- Fazenda Central do Rio Preto, no vale do Rio Preto, que era centro administrativo ; 2- Fazenda do Mont Serrat, que ficava do outro lado do Itatiaia, na vertente que dá para a antigo distrito de Campo Belo, atual município de Itatiaia; 3- Fazenda Queijaria, Rio Preto abaixo, onde se cuidava da indústria de laticínios. (2)

Desejava transformar, aquela até então inóspita região montanhosa, em um rico celeiro de produtos originários das zonas temperadas e frias - cereais e alienígenas frutas e em risonhos campos que se povoassem de gado de finas raças. Núcleos coloniais de italianos,principalmente, recém-chegados, foram fundados com grandes investimentos , um no vale do Rio Preto e o outro

no Monte Serrat. Todavia,o que realmente deu resultados positivos foi o setor de laticínios que a esse tempo fabricava o famoso queijo tipo "Chester" que tinha muita procura nas grandes confeitarias do Rio de Janeiro.

Henrique Irineu de Souza,filho do grande empresário e capitalista Visconde de Mauá, sentiase,talvez,obrigado por atavismo, a ser também, um grande empreendedor.

Seu pai,nascido em 1813 no Rio Grande do Sul, foi aos 12 anos de idade, levado para o Rio de Janeiro,por um tio seu, num navio abarrotado de charque, farinha de trigo e couros, viagem que na ocasião despendia mais de um mês.(3)

Chegando ao Rio,começou a trabalhar de caixeiro, ora arrumando mercadorias ou varrendo o lixo,ora fazendo pequenos serviços ou atendendo prontamente os pedidos dos funcionários mais antigos , sempre procurando aprender os segredos da profissão. À noite, discretamente, para não provocar ciúmes e invejas, à luz de velas ,estudava contabilidade, gramática e francês, o que lhe permitiria mais tarde devorar os escritos de Jean-Baptiste Say, autor da clássica "Lei de Say", um aplicado discípulo de Adam Smith, que via as relações econômicas pela ótica do pleno liberalismo dos mercados. Trabalhava sete dias por semana . Nas escassas horas de folga, se não estava aprendendo alguma coisa, engraxava botas dos colegas para engordar o esquálido salário de 50 réis mensais.

No entanto, a ascensão foi rápida, e aos 14 anos já conhecia na intimidade ,a contabilidade e os segredos da administração. Em 1833 ficou sócio da importante casa comercial Ricardo Carruthers, que tendo que partir para Europa,lhe confiou a administração. Mauá desenvolveu e elevou aquela empresa à liderança no mercado.Em 1841,casou-se e logo após fundou uma filial daquela casa comercial no Rio Grande do Sul. Em 1846,comprou a fundição e estaleiro da Ponta da Praia, no Rio e o transformou no maior estaleiro da América do Sul. Em 1847, organizou a Companhia Rio-Grandense de Reboques a Vapor, que melhorou extraordinariamente os serviços marítimos da Barra. Colaborou na elaboração do nosso Código Comercial que até hoje está em vigência.

Em 1851, no Banco do Brasil, no qual foi o organizador e fundador,que acabaria tendo o governo como seu maior acionista,antecessor do Banco Mauá & Cia., revolucionou o crédito à produção, emitindo moeda que circulava livremente e exibia vasta rede de agências distribuídas pela Argentina e Uruguai, mais inúmeros negócios no exterior, inclusive Londres.

Criou a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro;fundou a primeira estrada de ferro do Brasil, que foi a Estrada de Ferro Rio-Petrópolis; A Cia. de Navegação e Comércio do Amazonas e a dos Diques Flutuantes. Criou a Estrada de Ferro Pedro II, depois Central do Brasil, cujo primeiro trecho foi inaugurado a 30 de abril de 1854, estrada essa que foi a primeira ligação ferroviária entre as duas maiores cidades do país,o Rio e São Paulo.Também, foi o idealizador e o empreendedor da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí,a menina de seus olhos,que ele bancou até o dia da inauguração.

Fundou a notável Casa-Bancária Mauá Mac Gregor & Comp., no Rio de Janeiro; o Banco Mauá de Montevidéu no Uruguai e também,. várias casas comerciais da maior importância em Nova Iorque e Londres.

Demonstrava grande perseverança e coerência em seus propósitos. Personificava a figura do administrador austero, extremamente cuidadoso com os capitais de terceiros, dos quais administrava, e era incapaz de esbanjar dinheiro com gastos de viagens, subvenções ou suborno.

O desprendimento não o impedia de colecionar uma vitória após a outra. Iluminou e abasteceu de água a cidade do Rio de Janeiro, rasgou estradas e intermediou empréstimos para a implantação das primeiras redes ferroviárias em nosso país.Ergueu a primeira siderúrgica do país. Dedicou-se com tamanho ímpeto à democratização do capital que antecipou o advento das sociedades por ações,base do moderno empreendimento capitalista que só neste fim de século,com as privatizações, está revolucionando a eficiência e a competitividade das empresas no Brasil e na América Latina de um modo geral.

Todavia, ninguém deu ouvidos às queixas do Barão quanto à belicosa política imperial brasileira no Prata. Preocupava-se com a confrontação fronteiriça, rompendo com o passado intervencionista e acenava com as vantagens da integração econômica. O Mercosul existia na sua cabeça

mais de um século antes de virar um tratado assinado por Sarney e Alfonsín.

Em 1860,os agraristas já dispunham do poder e o café caía nas graças dos formuladores da política econômica. O enfrentamento entre eles e o então solitário industrialista iria reverberar ao longo de toda a década, com nítida vantagem para os agraristas, devido ao recrudescimento da importância da cafeicultura na economia brasileira.

Outrossim a política econômica pendia para o estatismo e os juros altos. Ele queria puxá-la para a órbita dos juros baixos e privatista. O governo imperial estatizara o Banco do Brasil, mas este não saia do lugar. Dizia : "O banco funciona como uma caixa de descontos, e realiza esta operacão pela taxa mais alta que consegue obter." Portanto, não democratizava os empréstimos, nem reduzia custos. Fazia o que os bancos europeus abominavam: maximizava os lucros e restringia

o crédito. Mauá queria ocupar o espaço vazio e fazer o dinheiro circular, gerando riquezas.

 

Tão grande quanto a fortuna que construíra era a animosidade que despertava, a começar pelo Imperador D.Pedro II, seu vizinho no aristocrático de então,bairro de São Cristóvão. Não por acaso sua majestade costumava espionar com uma possante luneta, aquele surpreendente rival plebeu, descrito pela Enciclopédia Britânica como "o ilustre homem que trouxe a civilização até

a selva do Amazonas."

Também dizia : "Desgraçadamente entre nós entende-se que os empresários devem perder,para que o negócio seja bom para o Estado, quando é justamente o contrário."

Teria sido este o seu erro ?

Faliu em 1878 e se reabilitou em 1884, e ao falecer em Petrópolis a 21 de outubro de 1889, deixava à pátria um nome que foi um exemplo de iniciativa empresarial e de força de vontade, aliada a uma grande e culta inteligência, servida por sua vez por uma admirável capacidade de trabalho.

Contudo,seu filho não teve a mesma sorte nos empreendimentos que realizara,pois a sua grande empreitada nos contrafortes da Mantiqueira, não logrou sucesso, tendo como resultado um retumbante fracasso.

Conforme menciona Renato Jardim em seu livro :Reminiscências: "O velho Domingos Fortes, respeitável e estimado negociante em Resende, correspondente comercial que era do comendador Henrique, conhecedor do que se operava lá na 'Serra', aos lamentosos insucessos costumava referir-se ,compungido, denominando-os: - 'as diabruras do seu Henrique'.(4)

Os interesses nesta experiência inicial foram especulativos e políticos. No primeiro caso, beneficiando o proprietário das terras; no segundo, atendendo aos anseios do Governo. Segundo os documentos existentes, nesta época os núcleos chegaram a possuir cerca de 185 colonos, dentre austríacos e italianos, vindos a partir do dia 7 de abril de 1889.Experimentou-se a cultura de bata- tas, feijão, milho, horticultura, frutas em geral (sobretudo uvas e maçãs),tentando-se a fabricação de queijos tipo suiço na Fazenda Queijaria.

Conforme mencionou o prof.Mendes da Rocha no seu livro , "Imigrantes em Resende":

"No final de 1890 a experiência foi dada como fracassada. A questão dos transportes (construção de estradas) foi apontada como principal problema dos núcleos. Apesar disso, tanto o Governo quanto o Comendador não executaram as determinações do contrato e os 60 contos de réis (60:000$000) disponíveis à experiência evaporam-se com o fracasso dos núcleos e a dispersão dos colonos."

Continuando Renato Jardim :"E lá ficou a 'Serra'- como chamado aquela região - sem inovações nem inovadores.Cerca de quinze anos após,no governo presidencial do fluminense Nilo Peçanha, o ministro Rodolfo Miranda, empreendeu ali uma colonização com alemães e suíços o que igualmente fracassou." (5)

Os imigrantes alemães vieram para o Núcleo Colonial Visconde de Mauá entre 1908 e 1916.

A política de colonização brasileira pretendia introduzir europeus, não para estabelecê-los nas grandes fazendas, mas nos chamados 'Núcleos Coloniais', que eram centros organizados em pequenos lotes de terras com o objetivo de realizar uma razoável produção de alimentos para ser vendida nos mercados das cidades brasileiras.

Os núcleos coloniais "Visconde de Mauá" e "Itatiaia" funcionaram, sob subvenção do Governo Federal, de dezembro de 1908 a maio de 1916. A partir de então, o Governo passava a assumir integralmente todas as responsabilidades com o empreendimento; desde a propaganda no exterior, passando pelo subsídio das passagens dos imigrantes, suas estadas, transportes até os núcleos, instalação provisória, sustento dos primeiros seis meses a um ano de localização, distribuição de instrumentos e sementes, demarcação de lotes, construção e manutenção das estradas.

O Núcleo Mauá deveria ser um centro agropecuário, com base na pequena propriedade e trabalhado pela família imigrante.Neste centro, em virtude das 'características locais', priorizava-se a produção de frutas européias, cereais,tubérculos e a criação de bovinos originários de clima temperado. Porém, a prática destas idéias, no contexto do núcleo, mostrou-se desastrosa.

Dessa forma, após a emancipação da colônia, a produção que não atingira as expectativas da política de colonização, tampouco os anseios dos imigrantes, decaiu verticalmente.

Com o fracasso da colônia e suspensão de todo o apoio oficial, os imigrantes que insistiram em permanecer na região, iniciaram uma outra atividade, aproveitando-se do clima europeu e dos belos e panorâmicos acessos ao Pico das Agulhas Negras, para se dedicarem ao turismo.

Visconde de Mauá é hoje uma importante região turística do Estado do Rio de Janeiro. Montanhas, baixas temperaturas e pequenos vales lembram o que encontramos na Europa, mais precisamente na região dos Alpes Europeus.

Notas Bibliográficas :


Fonte: Matéria enviada por:  José Eduardo de Oliveira Bruno  - SP, junho de 2004.
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